domingo, 11 de agosto de 2013

O heroi

O monstro era tão grande quanto seu papai, era maior, muito maior.
A garotinha, após ser colocada na cama e engolir em seco logo que seus pais fecharam a porta de seu quarto, fechou os olhinhos para não enxergar o escuro. Mas não fazia diferença fechá-los ou deixá-los aberto. A escuridão era mesma.
Tentou engolir seu medo, assim como se engolia saliva. Por sorte tinha seu ursinho de pelúcia para lhe fazer companhia. Então o abraçava forte. Mas apesar do escuro e da companhia do urso, ela via um monstro enorme que saía de baixo de sua cama, e seu ursinho tão pequeno não poderia defendê-la. Juntou as mãozinhas e pediu que papai do céu a protegesse. Mas o medo continuava ali, assim como o monstro.
Não gostava de ter que fazer isso, mas se não fizesse, não conseguiria dormir. Gritou:
- Papai!
Este veio rapidinho, pelo desespero sincero que notou no grito da filha. Abriu a porta, e a luz do corredor penetrou até a metade do cômodo. Ele passou a mão pela parede, e assim que achou o interruptor da luz do quarto, acendeu-a.
- O que houve, filha?
Ela estava agarrada com o ursinho, com cara de choro e os lábios repuxados numa expressão medrosa. Olhou para os olhos de seu pai, demonstrando um medo tão inocente, que era até bonito de ver aquela garotinha sentindo tal.
- Tem um monstro, papai! Ele não me deixa dormir. Sai de baixo da minha cama, e me faz caretas feias.
Já perto da garotinha, deitando-a novamente na cama, e cobrindo-a, ele respondeu:
- Pois então diga a ele pra ir embora, porque você quer dormir. – Sorriu.
- Eu rezei, fechei meus olhos... Eu já tentei de tudo, mas ele não deu ouvidos.
O pai tentou conter um sorriso. Limitou-se a passar a mão no cabelo da filha e abraçá-la, sem levantá-la da cama.
- Será que você falou em tom alto? Como ele é grande, talvez ele não escute. – Analisava mostrando-se preocupado.
- Ele não escuta de jeito nenhum, papai. Ele só vai embora quando você chega, acendendo a luz. Só aí ele vai voltando para o lugar de onde saiu, vai se encolhendo e logo some de baixo da cama.
- Se eu te deixar dormir com a luz acesa, será que funciona?
- Não papai, eu acho que ele tem medo de você. Por isso ele some. – Ela respondeu com pura sinceridade. Tão pura, que só poderia vir mesmo de uma criança.
- Ah! – Sussurrou coçando o queixo. – Bom, então daremos um jeito nisso já. Eu fico aqui com você, e assim você pode dormir, porque ele não aparece. E ai dele se ousar aparecer! – Fingiu bravura.
A garotinha sorriu mostrando os dentes, passou as pequenas mãozinhas atrás do pescoço do pai, e beijou-o na bochecha, cheia de orgulho. O papai era sempre seu heroi!
Ele abraçou-a, protegendo-a do medo. Sorriu, enquanto pensava que ter uma garotinha daquela como filha era a melhor coisa do mundo. Porque era a maior forma de um homem sentir-se o melhor do mundo. E de certa forma, ele era. Porque ela era só uma garotinha, e ele, seria até a morte, o heroi dela.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Dias de angústia


Deu um sorriso para a tristeza, mas ela não devolveu.

domingo, 18 de dezembro de 2011

À espera


E ali parado no portão aberto que dividia a calçada e a área da casa dela, ele disse que voltaria só no dia seguinte e acrescentou que agora iria se arrumar para sair. Então ela encarou-o com mais intensidade que de costume e lhe pediu que viesse despedir-se dela. – Isso porque teve medo de sentir saudade depois. E isso a preocupava, pois sabia que sentiria.
Ele respondeu prontamente que viria despedir-se sim quando estivesse indo. E aí enquanto ele se virava para tomar o caminho da rua, ela fechou o portão e com a testa e as mãos grudadas na grade, a imagem dele caminhando foi se refletindo em seus olhos amuados.
Quando ela viu que ele entrou na casa dele, sentou-se no chão, afundando os cotovelos nos joelhos e apoiando o queixo nos punhos cerrados. Não tirava os olhos daquela casa para não perder a hora que ele passasse pelo portão. Ficaria quase um dia sem vê-lo e doía-lhe ter que se despedir por uma noite. Mas, ela ansiava por esse momento porque se derreteria no último abraço dele do dia e teria em que pensar a noite toda e sorriria ao se lembrar do deleite só existente por causa daquele abraço. Seria assim até que pegasse no sono. Então agora lhe vinha um desespero: Não sabia se sua luta era contra a ansiedade de abraçá-lo logo ou se era contra a tristeza angustiosa de ter que se despedir dele. Talvez fosse com ambas.
Nisso, eis que ele aparece, abrindo, saindo e fechando o portão. No mesmo momento, num átimo ela sentiu seu coração apertar. Era a saudade já dando início ao seu massacre, como ela sabia que aconteceria. Mas seus olhos se arregalaram à medida que o aperto ficou maior ainda quando ela viu que ele dobrou a esquina. Começou a se sentir frágil e as lágrimas fizeram rapidinho o serviço de inundar seus olhos com aquela angústia que lhe escapulia do peito. Chorou com vontade. Um choro inocente, sentido. Ele se esquecera de vim se despedir dela, e a dor de ter visto a prova disso a amarrotava por dentro, colocando-a numa guerra contra si mesma. Ele disse que viria e ela se perguntava por que ele fizera o contrário. Não sabia a resposta. O fato é que fora esquecida. Não sentia fúria por isso... Mas sentia-se uma garota de amor recíproco solitário.
Não se sabe como ela conseguiu levantar-se e se equilibrar sobre as pernas sem forças. Mas ela se levantou e foi deitar-se em sua cama, dentro de casa. E de repente, surgiu aquela vontade de se aquietar. De pôr-se num colo que ninguém dava, a não ser o seu silêncio consigo mesma, que a acalmava aos poucos.
Adormeceu em poucos minutos. Preferia dormir com a sensação de deleite do abraço que não recebera. Mas para ela, ter um bom sono também era questão de tolerância. E ela tolerava tudo, enquanto se aquietava. Que bom que dormira. O amanhã chegaria junto com seu despertar. Então ele já teria chegado, daria sua desculpa da vez ou não, e tudo ficaria bem, de qualquer forma. Sua presença era agradável demais e ela o amava muito para não desculpá-lo. E também, amanhã ela ainda não teria desistido do abraço – que seria ainda melhor, por ser de chegada e não de despedida.
E quem sabe ele não se despedira de propósito, só para que a volta fosse mais desejada e feliz.