segunda-feira, 5 de abril de 2010

Garotinhas



Uma garotinha geniosa e egoísta poderia crescer, se sentir sozinha e querer ter um irmão? Parecia que eu podia.
Garotinhas pequenas sempre querem atenção. Sempre querem presentes, carinhos, beijos, abraços, querem mimos. Acontece que todo mimo ainda é pouco. Toda garotinha pequena quer mais mimos do que já recebe. É natural. Desde tão pequena já sente que precisa de mais amor. Quer proteção sempre que sente medo.
Bom. Só que garotinhas pequenas crescem e passam a ser garotinhas adolescentes. Começam se sentir sozinhas e imploram simplesmente por um pequeno gesto de carinho. Se receberem um, aí é que começam ser pequenas garotinhas adolescentes. Recebem um pouco, querem mais e mais.
Olham para a direita, olham para a esquerda, olham para trás e olham para frente. O carinho dos pais e dos amigos não são mais suficientes.
Assim foi comigo. Perdi meu gênio forte não me lembro em que gota de lágrima que derrubei querendo ter um irmão. Todo meu egoísmo esvaiu-se quando percebi que por culpa desse mal, perdi a chance de deixar de ser filha única.
Quantas vezes minha mãe perguntou se eu queria um irmão. “Não quero! Se eu descobrir que vou ter um, vou fugir de casa.”
Naquela época ainda havia tempo. Mas crianças são imaturas, não entendem... Não culpo minha idade. Só culpo meu egoísmo.
Meu maior sonho é que eu tivesse um irmão mais velho. Mas até pra fecundar fui egoísta, quis ser a primeira. Se não fosse meu egoísmo depois de aparecer no mundo, teria um irmão agora. Talvez dois, três anos mais novo. Mas teria um irmão. Ou uma irmã, quem sabe.
Teria um alguém do mesmo sangue, com quem pudesse ser de todos os jeitos. Veria todos os dias, em qualquer horário. Um alguém dentro de casa para abraçar, me ajudar com tarefas da escola, rir, sair, um ombro pra chorar, uma cara pra brigar, chingar, um ouvido pra me ouvir gritar, reclamar. Teria um irmão pra falar que odiava, mas amava acima de tudo. Impossível odiar completamente um irmão. Poderíamos viver em guerra, mas seríamos paz.
Uma garotinha geniosa e egoísta poderia crescer, se sentir sozinha e querer ter um irmão? Bom, eu cresci, me tornei frágil e compartilhadora. Quero, porém não posso mais ter um irmão. Nem mais novo e nem mais velho. É que agora quem não quer é minha mãe.
É tenso. Garotinhas sempre precisam de muito carinho. Sejam garotinhas pequenas, ou pequenas garotinhas adolescentes. Sempre querem mais mimos do que recebem.
Mas essas garotinhas egoístas, que querem todo o amor só para elas, crescerão física e mentalmente com o passar dos dias. É a vida. Aprenderão que amor, nunca é pouco e nunca é demais. E que ter um irmão, seja ele mais novo ou mais velho, é uma honra.
Bom... Pelo menos pra mim seria.
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Letícia R.

4 comentários:

  1. Eu adorei o seu texto! Tipo, você foi super sincera e tudo o mais. Minha mãe diz a mesma coisa, que adoraria ter um irmão de sangue. Mas diz que os de consideração já são maravilhosos. Parabéns, viu? :)

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  2. Muito legal seu texto :) Eu já experimentei a vida como irmão e como filho único (e sou o mais novo xD), tudo tem lá suas maravilhas, irmãos são legais, preenchem a casa, mas tem horas que não dá e algumas coisas vão longe demais, eu não imaginaria minha vida sem minhã irmã, mas não se culpe (se é que você se culpa) pelo fato de não ter.

    PS: Sobre meu texto da sala de aula, a história é fictícia, afinal, eu ainda estou aqui :)

    BjS

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  3. Nossa, nunca parei pra pensar em um irmão desse jeito, apesar de que tambem ja desejei um irmão mais velho.
    E isso me faz lembra de algo que eu disse pra um ex meu, que existem carinhos diferentes, vindo de diferentes pessoas. E o que você sente falta, é de um bem diferente dos que eu já vi. Muito peculiar, mas muito bonito, mesmo assim. Espero que encontre alguém que supra isso para você.

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  4. Bom, a única coisa de que discordo é "Se não fosse meu egoísmo depois de aparecer no mundo, teria um irmão agora.". Ninguém, repito: absolutamente ninguém escolhe as circunstâncias em que nasce.
    Achei o texto bastante emocionante, você tem um estilo interessante.

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