quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Thalita

Tudo parecia denso. Até mesmo o ar que entrava pelas minhas narinas parecia sentir medo, pena, ou sei lá o que de algo. As folhagens das árvores que nos rodeavam farfalhavam ao sopro do vento fúnebre que preenchia o dia cinzento.
Devíamos estar em algum lugar alto. Porque logo atrás de Thalita, o solo em que pisávamos findava. E a vista daquele lugar parecia mesmo um tanto panorâmica.
- Eu te amo tanto!
- Então me abraça forte e diz mais uma vez que já estamos distantes de tudo. – Pediu ela, com aqueles negros olhos rasos que conseguiam ser profundos ao se direcionarem aos meus. Então sorri e tomei-a em meus braços.
- Já estamos distantes de tudo. – Falei enquanto a abraçava, confortando-a.
Depois de uns instantes, num repente ela se livrou delicadamente dos meus braços que a prendiam num abraço. Deu um passo para trás e não tinha nada ali para que ela tropeçasse, mas ela caiu. Foi então que percebi que estava em um penhasco. Lembro-me veemente do desespero que senti quando olhei para baixo e avistei o corpo dela indo de encontro ao rio enorme que lá havia. Eu não cheguei a pensar em algo. Quando dei por mim, era meu corpo que havia caído ruidosamente na mesma água que a engoliu. Caí de olhos abertos e, devido a minha forte queda, pude enxergar a água incolor fazer bolhas ao meu redor e tornar-se branca. O rio era escuro e parecia ser de uma profundidade sem fim. – Assim como eram os olhos de Thalita.
Mergulhei fundo, olhando para todos os lados à procura dela. Mas não a via. Tampouco conseguia ver lados ali de baixo. Estava tudo escuro e eu só sabia que estava na água, porque não conseguia respirar. Mantinha meus olhos abertos, mas era como se eles estivessem fechados. Eu não via absolutamente nada a não ser um único e puro breu.
Não tardou a bater em mim uma imensa necessidade de voltar à superfície para buscar ar para meus pulmões. Todavia, algo não me deixava ceder a outra necessidade que não fosse encontrar Thalita naquele rio abismático. E eu nadava, nadava, numa procura sem êxito. Até que meus pulmões não puderam suportar mais. Nisso, nem se eu quisesse conseguiria chegar à superfície. Era tarde para isso. E no desespero do meu afogamento, acordei.
Meu corpo parecia ter chorado por horas enquanto dormi. Eu estava transpirando demais. Sentei-me assustado na cama, respirando fundo, enxugando o suor da testa enquanto tentava acalmar meu âmago, dizendo a mim mesmo que aquilo havia sido um pesadelo. Mas eu não sabia o que era pior: Ter despertado daquele sono opressivo sem entender o sentido dele, ou ter morrido nele sem ao menos encontrar Thalita, o meu amor. – A menina da minha vida, que a propósito, já havia falecido há um mês.
Do que estaríamos distantes? Seria da tortura da saudade e até mesmo distantes da própria distância? Será que tudo era um indício de que ela também sentia minha falta de onde quer que estivesse?
Era bom tê-la comigo em meu subconsciente. Ainda que por vezes fossem pesadelos nos quais ela sumia sem que eu conseguisse encontrá-la, eu podia sentir o calor do corpo dela quando a abraçava. Podia sentir normalmente todas as emoções que o olhar dela transmitia. Tudo exatamente como eu sentia em vida, quando ela respirava.
A saudade que eu tinha dela pisava em meu peito com salto agulha. Incomodava-me não entender aqueles pesadelos. Mas quando eram sonhos, ah... Por Deus, como eu odiava acordar.

#Pauta para 83ª edição musical e 84ª edição visual do Bloínquês

9 comentários:

  1. Os sonho as vezes parecem estranhos mas depois fazem muito sentido.

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  2. Lindo o texto. Parabens, adorei o blog. Estou te seguindo, se puder me seguir de volta, agradeço. =)

    http://infostartnet.blogspot.com/

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  3. Citaste Legião Urbana! Foi belo conto

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  4. Oiiii, tudo bem?
    Boa tarde!
    Vim agradecer seu carinho em meu blog!
    Seguindo aqui.
    Fique com Deus!
    Beijos.

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  5. Texto lindo,disse tudo! É a primeira vez que visito seu blog, e ele me encantou... Já estou seguindo. Beijos

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  6. Maravilhoso teu conto e participação perfeita! Gostei de imaginar o salto agulha pisando no peito...Perfeita expressão! beijos,tudo de bom,chica e boa sorte!

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  7. MUITO BOM, BELO BLOG! Eu acredito que Deus criou o homem e deixou o manual de instrução, a “BÍBLIA SAGRADA!” A bíblia é a divina revelação da palavra de Deus e não produtos enlatados, eu costumo dizer que: “As pessoas precisam parar de comer tudo o que dão. E começar a questionar! ” Alguém escuta alguma coisa de alguém, e saem falando, sem questionar, sem saber se é verdade ou não. As pessoas precisam se perguntar! Será que a minha crença esta de acordo com a lei de Deus? Será que a religião que eu nasci sempre me falou a verdade? Quando uma pessoa morre pra onde ela vai? Ela volta? Existe purgatório? A bíblia apoia o homossexualismo? Quem não herdara o reino de Deus? O que devo saber sobre idolatria, imagens e escultura? O que a bíblia realmente fala sobre idolatria, imagens e escultura? É mais fácil seguir a tradição que nasci, do que procurar saber a verdade que a minha bíblia vai me dizer? O que devo saber sobre o único batismo? Será que tem uma sequência para salvação? A quem eu devo me confessar, quem pode me perdoar? Religião salva alguém? Essas e outras perguntas e respostas em: www.aunicaverdadeemsuapropriabiblia.blogspot.com
    Fale para outras pessoas, por que “O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns têm por tardia: mas é longânimo para convosco, não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se.” (II Pedro cap. 3 ver 8) e “Que quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade. Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo o homem. (IA Timóteo cap 2 ver 5 e 6) Seja sua bíblia, católica ou evangélica, aqui você vai tirar suas duvidas.
    www.aunicaverdadeemsuapropriabiblia.blogspot.com
    E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertara (João cap 8 ver 32) Se você tiver coragem de perguntar, a bíblia terá coragem de responder!

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  8. Oi

    Gostei, principalmente, da sua descrição sobre si mesma que você faz no blog. Achei muito interessante sua discrição cheia de antônimos: " a concentração distraída"... Realmente, geminianos ou que tem o signo de gêmeos como ascendente, tem essa característica.

    Mas gostei do seu texto. Talvez não exista sentimento mais dolorido que a saudade, principalmente quando é impossível rever o objeto da saudade. Então, talvez como um mecanismo de defesa, nossa mente torne isso, fictamente, possível através de um sonho que ocorre quando somos recolhidos ao sono. Sonhos assim podem ser "Morfeu" embalando o nosso sono...rsrsrs

    Agora... Sem querer me intrometer na forma como você programa o seu blog, mas apenas querendo dar uma sugestão, você deveria retirar essa verificação de palavras do seu blog porque isso dificulta e muito os comentários porque, às vezes, a verificação demora a aparecer e isso pode desanimar o leitor que tem intenção de fazer comentários. Deveria programar o seu blog para moderar seus comentários, pois, nesse caso, a verificação de palavras desapareceria. Bem, é só uma sugestão.

    Abraços!

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