Descobri frente ao espelho.

Eu sempre parei em frente ao espelho para refletir e me ver refletida ao mesmo tempo. Sempre tão preocupada com minha aparência física, acabei por me olhar e perguntar “Quem sou eu?”.
Aprendi que espelhos podem refletir imagens, mas nunca refletirá aquela que estiver escondida, fora de seu alcance. Um espelho não reflete o que está atrás dele, tampouco o que está dentro de mim.
Já era depois do almoço. Eu estava indo pro colégio. Fazia um friozinho bom, e chuviscava. Saí do portão de casa, avistei todo aquele verde à minha frente e todo aquele azul cinzento do céu acima de mim. Incrível como tudo muda em determinado dia. Até o céu muda quando chove, ou venta, ou chuvisca.
Naquele dia, eu também mudei. Eu tirei a toca da jaqueta que estava protegendo minha cabeça do chuvisco, depois abri o zíper. Olhei o céu sorrindo, elevando minhas mãos ao alto para sentir melhor as gotas da chuva calma que caía.
Eu sei que o céu é bom se olhar a noite, porque a luz solar irrita os olhos, mas aquele dia a luz solar estava fraca, afinal, estava friozinho. Fortes, estavam as luzes dentro de mim. Descobri que não sei quem sou. Pelo menos ainda não sei. Ou talvez nunca saiba. Mas pela primeira vez, olhando no espelho, fui além da minha imagem refletida. Chegaria na escola com a roupa molhada, com o cabelo bagunçado.
Por que fazer isso? Bom... Isso é o que eu chamo de viver.
Viver, viver! Um bom começo na tentativa de descobrir quem sou, saber quem serei.
É que a gente muda em segundos. A gente se define de um jeito agora e depois já somos de outro.
E é por isso que eu vivo. Porque eu não sei quem sou todo o tempo e nem sei o que serei daqui a pouco. Eu sei apenas o que eu sou neste instante. E naquele instante, eu era apenas uma garota que acabava de aprender que toda hora é hora de mudar.

~ Um espelho, sempre será apenas um espelho. Mas às vezes, refletindo frente a ele, -pensando frente a ele- você chega a algum lugar. ~

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Letícia R.