quinta-feira, 1 de abril de 2010

Aprendendo a caminhar


Quando você não sabe para onde ir, a melhor coisa a fazer, é continuar seguindo. Andando, se faz um caminho, caminhando, há de se chegar em algum lugar. Bom... Foi isso que Luna fez.

Ela não vivia exatamente um conto de fadas. Mas tinha uma madrasta má. Ser a princesa do papai, nunca foi tão ruim para ela desde que sua mãe faleceu com câncer.
Entendia perfeitamente que seu pai não queria ficar sozinho e também achava que ela precisava de uma mãe. Mas que cascavel venenosa ele havia escolhido como mulher.
- Seu tom de pele, seu cabelo ruivo... Tudo herdado da sua mãezinha não é? – Dizia a madrasta, andando lentamente de um lado para o outro da sala, dando olhadas malévolas a Luna, que estava em pé, ao lado da poltrona preferida de sua mãe. – Você pode chorar e sorrir ao lado desta poltrona velha que ela gostava. Pode ler os livros preferidos dela. Mas não pode evitar o fato dela não estar mais aqui. E agora, princesinha, quem manda aqui, sou eu.
Luna a olhava com olhos lacrimejantes, cheios de raiva e dor. Abaixou a cabeça.
- Eu mando aqui! – gritou a madrasta. – Está me ouvindo? – Disse, levantando bruscamente o rosto da menina para cima.
- Se você contar alguma coisa a seu pai, você se arrependerá até a última gota de sangue da sua mãe! – Deu uma última olhada ameaçadora à Luna, e se retirou da sala.
Luna se sentou na poltrona, se encolheu, abraçando os joelhos, começou a chorar.
“Só quem conhece o azul do vôo, sabe seu poder de pássaro.” Lembrou-se de repente de sua mãe lhe citando esta frase.
“É claro, dominações surgem quando nos deixamos influenciar”. Pensou ela. Por que não cortar seu belo cabelo ruivo? Deixar o comprimento da parte da frente na altura dos ombros, e manter o comprimento atrás. Sua mãe lhe ensinara que o vermelho simboliza guerra. Seus fios eram naturalmente vermelhos, porque ela nasceu simplesmente para lutar. Aquele novo tipo de corte daria com certeza o ar de rebeldia, de determinação em seu rosto.
Levantou-se, pegou a tesoura que estava na mesinha, juntou a parte da frente de seu cabelo, e viu seus lisos e ruivos fios caírem no chão. A tesoura também era vermelha. Talvez lhe desse sorte.
Acabou de cortar os fios, e colocou a tesoura na mesinha em sua frente. Levantou o rosto, vendo-se refletida no espelho mais adiante. Respirou fundo, armazenou forças. Dali em diante não deixaria que seus olhos tropeçassem em lágrimas. Não, agora não mais. Certas pessoas que nos rodeiam cuidam da gente, e Luna tinha certeza de que sua mãe não a deixara sozinha.
- Menina idiota, o que significa esse cabelo no chão da sala? – Esbravejou a madrasta, ao chegar na porta e notar os fios vermelhos no chão.
- Menina idiota por quê? Por que eu nunca abri a boca pra te contrariar? – Luna questionou firme, olhando fixamente nos olhos da madrasta.
- Quem você pensa que é pra falar assim comigo? Eu já disse que eu mando aqui!
- E quem você pensa que é pra mandar aqui?
- Eu sou sua mãe agora! Você vai ter que se acostumar.
- Você não é nada minha. A natureza humana pode dizer que você é minha nova mãe, mas para mim e para todo meu ser, você nunca passará de uma pessoa, dessas que a gente num conhece.
- Olha aqui, você está me irritando, garota!
- Você não vai ocupar jamais o lugar da minha mãe! Ela está aqui ainda!
- Mas você acha que eu não posso ver que você está sendo patética? Sua mãe está morta, entendeu? M.O.R.T.A! – Disse exaltando a última palavra.
- Sendo vista pelos olhos de uma pessoa como você, posso parecer qualquer coisa, não ligo. E amor, o amor é como o vento: não posso ver, mas posso sentir. Você conhece essa frase, não é?
- É claro que conheço essa frase, menina. O que é? Ta citando frases por que está percebendo que não pode me contrariar?
- Eu estou dizendo que o amor é como vento. Minha mãe é como vento agora. Minha mãe é o amor. A senhora pode ser mulher do meu pai, morar debaixo do mesmo teto que nós, mas nunca, jamais, receberá o mesmo carinho que minha mãe recebeu.
A madrasta passou os dedos entre mechas de seu cabelo, abaixou os olhos, pensativa e saiu da sala sem dizer mais nada.
Luna viu a reação da madrasta, se jogou na poltrona preferida de sua mãe, e sorriu. Ela não se meteria na relação entre sua madrasta e seu pai, então resolveu deixar claro as evidências. É que quando você não sabe para onde ir, a melhor coisa a fazer, é continuar seguindo. Andando, se faz um caminho, caminhando, há de se chegar em algum lugar.
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Letícia R.
#Pauta para edições musical e visual do Bloínquês.

5 comentários:

  1. Belíssimo texto, como todos os que vc escreve. *--*

    Letícia, tenho um selinho para vc, o selo "BEAUTIFUL BLOGGER". Dá uma passadinha lá no meu blog e pega, tá? Te escolhi pq acho que vc merece. :)

    Qualquer coisa, aí está o link:
    http://allannedsonan.blogspot.com/2010/04/primeiro-selo.html

    Feliz páscoa. Beijos!

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  2. Muito bom seu texto, mostra q as vezes temos q pegar as rédeas de nossa vida e aprender a controlar ao invés de ser controlado...
    Gostei do blog, tô te seguindo

    Bjs e uma ótima páscoa pra ti =D

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  3. *----------*
    Tenho mania de pegar um blog aleatório aqui da lista e ler. Não podia ter escolha melhor pro meu dia. Gostei muito :D

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  4. Lindo seu texto, eu amo essas meninas com determinação e vontade própria pra fazer as coisas, no texto isso está bem claro e mostra o que muitas deviam fazer :)

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