Idaí se a janela estiver fechada?

Peguei a caneta, encarei o papel em branco e escrevi o que eu podia ver pela janela do meu quarto. Eu tentei juntar aquelas idéias aleatórias e fazer um conto. Não consegui...

É sempre difícil por em palavras o que sinto. Nunca fui boa em descrições também. Mas nada disso me impediu de tentar escrever. Havia que ter algo que eu pudesse contar. Algo que estava trancado em minha mente. Algo que de alguma forma, eu colocaria em letras no outro papel em branco que peguei para escrever um conto.

Não consegui a criatividade suficiente para criar personagens, criar um enredo em cima do que eu via pela janela do meu quarto, enquanto eu estava deitada, observando as gotas de chuva que lá fora caíam. Eu estava adorando vê-las cair. Achei que por eu gostar, seria inspirador. Mas eu não consegui escrever nada além de pequenas idéias e observações aleatórias.

Hoje faz quatro meses desde aquele dia. Bateu uma vontade imensa de contar algo enquanto recordo daquela simples chuva que eu jurava ser inspiradora.
Eu estou sentada em minha cama, agora. É noite. Minha janela do quarto está fechada. Eu gosto de me deitar e poder ver o azul do céu. Mas a noite é a melhor hora para se escrever algo, por mais que seja escura. A janela fechada, força minha mente a pensar. São esses pensamentos que tornam minha noite clara. Eu amo isso.

Minha mente viaja pelos dias anteriores em que a janela do meu quarto esteve aberta. Quando estou em pé diante dela, não vejo um mar, nem como está o trânsito na rua. A uns cinco metros a frente dela, eu vejo um muro. Em cima desse muro, vejo a copa das duas árvores que ficam na calçada. Consigo ver os postes de eletricidade também. E claro, o céu azul durante o dia. Mas não é essa visão que parece me inspirar, que eu já disse gostar.
Eu gosto é da visão que tenho de tudo lá fora quando estou deitada ou sentada na cama. É que assim eu não vejo o muro. Ele bloqueia minha visão mais além. Eu gosto de observar da cama, porque assim eu vejo apenas o azul lindo que o céu possui. Em dias de chuva, eu ouço as gotas se desmancharem no chão, uma por uma, fazendo um barulhinho relaxante. De noite, o céu é escuro. Mas há a ilustre presença das estrelas para deixá-lo lindo como o dia com a presença do sol. Estou pensando...

Não preciso de uma vista para o mar. Não preciso e nem quero ter uma vista para o trânsito na rua. Se eu fico em pé diante a janela, o muro mais a frente bloqueia minha visão de mais coisas, mas da minha cama eu tenho a melhor vista do mundo.
Porque eu iria querer ter uma visão mais linda, vasta e perfeita, do que a que eu tenho do céu?
O céu que eu admiro, o céu que trás as chuvas que me relaxam em dias tensos e nervosos. O céu que possui a lua, o sol e as estrelas. O céu que me inspira.

A janela continua fechada ainda. Mas eu já disse que isso me força a pensar. Isso me faz ver que realmente o céu me inspira. É que eu percebi que mesmo sem poder vê-lo, eu posso dizer, sentir e lembrar de como é importante e essencial para mim poder vê-lo.

Não vejo o céu agora. É noite, mas não vejo as estrelas. O que clareia “meu céu” é que finalmente consegui encarar outro papel em branco e contar o que há quatro meses estava preso em minha mente.
Às vezes é preciso estar trancado, para poder se libertar.

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Letícia R.

#Pauta para o projeto In Verbis e Blogueando