sábado, 5 de março de 2011

Atos de amor


Chuviscava fraquinho. Enquanto Nicoli andava pela rua molhada, abraçando-se de frio, virou à esquerda de uma esquina e avistou que ao lado de um casarão de tijolos brancos abandonado, estava sentado um homem na sarjeta da calçada do mesmo. Ele usava uma blusa de frio grossa e preta, cujo capuz lhe cobria a cabeça.
Hesitando se devia ou não, Nicoli foi se aproximando lentamente do homem. Não podia negar que sentia medo dele; era um estranho, sozinho, em uma sarjeta, à noite. Sentou-se ao lado dele timidamente. Pousou os braços nas pernas e mexia nas unhas. (Ela sempre fazia isso quando estava com vergonha, ou nervosa). Não sabia se o homem era moço ou idoso, pois ele ainda não lhe olhara nos olhos. O capuz de sua jaqueta cobria-lhe a lateral de sua face também. E aparentemente, seus olhos olhavam adiante, mas era como se não estivessem olhando para lugar algum.
- Olá! – Ela disse, vendo que ele fora indiferente com sua presença. – Meu nome é Nicoli. – Deu um sorrisinho que ele não chegou a ver.
O homem fingia-se distraído, mas ouvia o que ela dizia.
- Como é seu nome? – Disse, tentando fazer com que ele lhe proferisse alguma palavra que fosse. Não resistindo à suavidade da voz da garota, ele cedeu:
- Meu nome é Caio. – Respondeu gentilmente, sem olhá-la ainda.


E então, mesmo sem ver o rosto, Nicoli percebeu que o homem, era um jovem. A voz dele era gentil. Mas o fato dele não olhar para ela, fazia com que ela se sentisse ignorada. Abaixou a cabeça, e ainda mexendo em suas unhas pintadas de vermelho, soltou um suspiro de quem deixa cair uma lágrima. Não agüentava mais tanto desprezo. E aquele jovem desconhecido, além de desprezá-la, lhe trouxe lembranças.
Ele fechou os olhos, e ela percebeu que ele respirou fundo assim que ela deu um suspiro de choro. Segundos depois, como se ele tivesse pedido para que ela desabafasse, ela começou dizer:
- Meu pai me odeia. Perdi minha mãe quando tinha dez anos. Desde então me tornei triste. Porque a única coisa que meu pai diz, é que sou uma desgraça, uma inútil. Ele nunca vê meu esforço para tentar agradá-lo, nunca. E isso me arde. Você não imagina o que é se esforçar, e ainda sim ser criticada, como se num tivesse nem ao menos tentado. O pior, é que eu não sei porque ele me trata assim. Talvez seja porque ele sente falta da minha mãe. Mas poxa, eu também sinto! – E agora chorava de verdade – Na escola, desfazem de mim. Pela perda da minha mãe, entrei em depressão e passei a me isolar. E nas escolas, quando você se isola, você vira um alvo de piadinhas. Mas apesar disso tudo, eu choro mesmo, é porque sempre perco quem me ama, e respectivamente, quem eu amo.
- Não se preocupe tanto com as opiniões do seu pai. Só o esforço já vale a tentativa. – Fez uma pausa – Eu também já perdi uma pessoa que amo muito. Vim buscá-la. Por isso estou aqui.
Admirando-se por ele ter falado com ela e até ter a dado um breve consolo, ela se interessou em saber mais coisas sobre ele.
- Você já veio aqui antes?
- Sim.
- Sempre estive aqui, nunca te vi. – Ela comentou, pensativa.
- Tem certeza? – Questionou - Eu sempre soube que é para este lugar que você vem quando fica triste. Você tinha um amigo mais que amigo que ficava com você aqui antes. Mas não devia vir aqui sempre, estando sozinha. É deserto, é perigoso.
Confusa, ela olhava para Caio, sem poder ver sua face.
- Como sabe de tudo isso?
- Esse seu amigo se chamava Caio também, não é? Como me chamo.
- Sim. Ele se mudou para uma cidade distante. Há quatro anos que não o vejo. – Ela disse, estranhando aquilo tudo, e ao mesmo tempo, triste. Pois foi a lembrança de seu amigo, que ao saber o nome do jovem, a fez dar o primeiro suspiro de choro.
- Sente falta dele?
- Demais! – E recomeçava a chorar. – É por ele que choro. Ele foi a segunda pessoa que perdi.
E num repente, o jovem abaixou o capuz da cabeça, e olhou para Nicoli, que estava de cabeça baixa.
- Então não chore mais. – disse, pegando em seu queixo. - Não me perdeu. Eu estou aqui! – Completou, puxando o queixo dela levemente para cima e sorriu para ela.
Num ímpeto, ela abriu um largo sorriso em meio as lágrimas que lhe escorriam pela face, e passou os braços por sobre os ombros de Caio, que abraçou-a sem hesitar.
Abraçaram-se demoradamente, e então, ela o soltou. Vendo que ainda havia lágrimas no rosto dela, ele as secou sutilmente, sorrindo.
- Caio, como sua voz mudou nesses anos que não te vi! Juro que não a reconheci.
Ele riu.
- A sua também mudou um pouquinho. Mas é inconfundível a sensação que tenho quando a ouço. Só acontece quando você está falando.
Ah... Se ela fosse uma pedra de gelo teria se derretido naquele momento. Sem jeito, mudou de assunto:
- Por que não se virou logo para que eu visse que era você? Por que me deixou chorar à toa?
- Surpresas não foram feitas para ser estragadas, meu anjo. E essa será a última vez que chorou.
- Ah é? E por que me garante tão seguro assim?
- Por que eu voltei definitivamente para ficar nessa cidade. E isso indica que você não terá que ficar sozinha e triste com esse povo. Não mais. Estou aqui agora. Quem te ama está aqui agora, meu amor!
- Quem eu mais amo está comigo agora, meu Deus! – Ela exclamou felicíssima, olhando para cima, como se estivesse vendo mesmo Deus lá em cima.

E sob o céu que fazia chuviscar, dois jovens se beijaram confortavelmente. Caio a mantinha perto dele de modo tão aconchegante, que ela não sentia mais o friozinho do tempo. E pela primeira vez depois de quatro anos, aquela rua deserta estava cheia. Cheia de amor e alegria que dois jovens faziam exalar por todo o lugar.
Porque quando se ama, e sente-se só, não se precisa de muita gente. Apenas precisa daquela que amamos. Porque apenas com essa determinada pessoa o sentimento se completa, e a companhia se torna a mais perfeita.
Quanto a amores distantes, ah... Isso é o de menos. Quem ama sempre volta. O amor é maior que tudo. Maior que milhas, quilômetros, e o que quer que seja.

5 comentários:

  1. Nossa.. eu pensei em umas coisas depois de ler seu texto.
    Bacan :D

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  2. ahh que super lindo *--*
    eu tenho o meu Caio, mas ele nem é assim tão
    moço bonzinho hauahuahuah

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  3. OLÁ.
    ADOREI SEU BLOG E ESTOU SEGUINDO.
    ME SEGUE DE VOLTA?
    WWW.AMORIMORTALL.BLOGSPOT.COM
    BEIJOS

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  4. *________________*
    uma história romantica q naum achei clichê e chata...
    bom...
    era pra isso ter sido um elogio...
    xD~~~
    =***
    ótimo texto...
    se cuida...

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  5. muito bom!
    estou lhe seguindo
    bjos

    http://rgqueen.blogspot.com/

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